Verdade
Os povos celtas não utilizavam a escrita para escrever suas leis, elas eram transmitidas de geração em geração e seu descumprimento era passível de multas e compensações.
Não haviam pessoas especializadas em monitorar as ações dos membros da tribo, entretanto, o poder da VERDADE era premissa de honra para os celtas. A VERDADE norteava as palavras ditas diante da comunidade, ser verdadeiro era conduzir a vida com dignidade perante os Deuses.
Que sejamos cuidadosos com nossas palavras e que elas carreguem o peso da verdade.
Muitos veem a VERDADE, como um desdobramento da honra, mas esse é um valor tão presente nas tríades e mitos celtas que é preciso considera-la em particular.
Viver a VERDADE nos dias atuais é um desafio, uma vez que somos incentivados diariamente a vestir máscaras sociais e entrar em um padrão que não seja o nosso.
Em um mundo de aparências, vivemos a VERDADE ao:
- Ser sincero em todas as nossas relações;
- Não proferir mentiras, enganar ou manipular de forma deliberada;
- Não deixar de dizer algo que seja importante para alguém por algum receio;
- Ser sincero com nós mesmos, buscando encarar e lidar com uma situação ou emoção, por mais desconfortável que se mostre;
- Conhecer-se profundamente e viver a sua própria verdade, independente de críticas e julgamentos;
- Viver suas palavras, não dizer ser ou fazer algo que não é;
- Se mostrar verdadeiro não é ser desrespeitoso com os outros.
Um conto sobre a VERDADE:
Certa vez, quando Cormac era rei de Tara, apareceu diante de si uma altivo homem portando um ramo prateado de onde pendiam maçãs de ouro. O ramo emitia um som suave capaz de acalmar os corações e induzir a um sono reconfortante.
O visitante revela vir da Terra da Verdade e em sinal de amizade oferece o ramo ao rei em troca de três favores. O rei aceita a proposta, e o forasteiro exige em troca o filho, a filha e a esposa do rei.
Como já havia se comprometido, o rei é obrigado a manter sua palavra, porém, depois de um ano, junta seus exércitos e parte em busca de sua família.
Após atravessar uma densa névoa, ele se vê diante de uma fortaleza e um estranho e sua companheira lhe oferecem hospitalidade. O homem corta um porco em quatro partes e coloca no “Caldeirão da Verdade” e explica que a cada história verdadeira contada, uma das partes será cozida.
Cormac conta a história do desaparecimento de sua família, e sua parte é cozida. Logo após, sua família, perfeitamente a salvo, se reúne a ele para a refeição.
Mais tarde, Cormac admira um belo cálice de ouro de seu anfitrião, que lhe explica que o cálice se quebra quando três mentiras são contadas e se restaura quando três verdades são proferidas.
Ele conta três mentiras, e o belo objeto se faz em pedaços. Em seguida afirma: enquanto sua mulher e filha estiveram fora, nenhum homem as tocou, tampouco seu filho esteve com mulher alguma. E imediatamente o cálice se recompôs.
O anfitrião se revela Manannán mac Lir e presenteia o rei Cormac com o poderoso “cálice da verdade” antes de mandá-lo de volta para casa com sua família e exércitos. Um presente digno de Deuses e Reis.